Aqui há talento ! É uma aluna do 8ºano que faz esta análise ao poema... Parabéns !

03-03-2011 22:18

LÍRIO ROXO

Viajei por toda a terra

Desde o norte até ao sul;

Em toda a parte do mundo

Vi mar verde e céu azul

 

Em toda a parte vi flores

Romperem do pó do chão,

Universais, como as dores

Do mundo

Que em toda a parte se dão.

 

Vi sempre estrelas serenas

E as ondas morrendo em espuma.

Todo o Sol um Sol apenas,

E a Lua sempre só uma.

 

Diferente de quanto existe

só a dor que me reparte.

Enquanto em mim morro triste,

Nasço alegre em toda a parte.

                              António Gedeão, Poesia Completa

 

Texto Narrativo/Literário - "Lírio Roxo"

            Como um simples lírio roxo pode desencadear uma complexa tarefa - a de o compreender, contemplar, interpretar. Se, por um lado, podemos dizer que provém de uma Natureza bela, sofisticada e encantadora, divina por si só, também podemos contradizê-lo ao dizer que provém de uma Natureza morta, sem luz, entristecida como só.

            Contudo, a Natureza desenvolveu-se assim, sujeita a vários entendimentos que variam conforme o estado de espírito e a consciência momentânea de cada um, numa determinada altura da vida. Como diz no poema anterior " e as ondas morrendo em espuma", quem garante que, de facto, estejam a morrer? Não poderão, pelo contrário, voltar a rejuvenescer na espuma branca e pura, que delimita o mar, acolhendo-o no seu berço?

            As constantes da vida podem não ser, somente, constantes: é certo que a brisa é igual em toda a parte, mas isso não desvaloriza o seu encanto: é refrescante, melodiosa, portadora de um sentimento desigual. Sentada num banco de jardim, a envolver-me na brisa, vejo o rosto de quem gosto, oiço a sua voz distante mas nítida - porque a brisa é uma portadora de memórias.

            Como são semelhantes as árvores: castanhas no tronco e verdes na copa. Sempre imponentes, erguidas. Fortes; nunca desistem, nunca param de combater a brisa que por vezes se transforma em vento tenebroso. E como o balançar das suas folhas faz lembrar a liberdade, a leveza, a serenidade… E não serão, porém, mais bonitas ainda quando nuas, completamente desfolhadas de copas que as escondam dos olhares intrometidos de outrem? Não haverá também beleza num corpo que, embora nu e solitário, continue insistentemente a rumar contra forças opostas e desleais?

           

            E as estrelas, eternamente cintilantes e, para o autor, serenas, por isso confiantes. Apesar de em todo o Mundo continuarem a ser as mesmas estrelas, bonitas e bailantes, não permanecerão lindas como nunca o foram? Como quando olhamos para elas e vimos o reflexo perfeito de quem gostamos.

            Sim, e de quem gostamos? Essas pessoas não serão iguais, em toda a parte, em todo o Mundo? Sim, serão, e por isso erguerão a mais bela e duradoura beleza: a interior. A beleza que se encontra no coração,  nas eternas profundidades deste, também a oscilar na superfície. Uma beleza permanente, constante, e por isso não efémera.

            O Mundo é assim, por vezes igual, sem mudanças. Porém, essas aparentes ausências de movimento não significarão a falta de encantamento, de frescura, de vida. Porque a vida também é, por si só, uma antítese: é completamente oposta, como a Natureza, como tudo o que foi criado, aliás. Contudo, é uma antítese especial, eternamente incompleta, sempre a viver acrescentos, melhorias, a tornar-se desigual.

            Talvez sejam os sentimentos aqueles que nunca sejam constantes, iguais por completo, como diz António Gedeão.

            No meio de um Mundo enorme, desprovido de simplicidade, provavelmente é na enorme complexidade dos meus sentimentos que residem as maiores mudanças, as diferenças, os eternos porquês.

                                                          Diana Venda - 8ºD - nº10

 

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